Ticiano, Amor sagrado e Amor profano, 1514 Galeria Borghese, em Roma. |
"Amor sagrado e Amor profano" de Ticiano (1490-1576) foi pintada
para celebrar o casamento do veneziano Nicoló Aurélio (brasão no sarcófago) com
a jovem viúva Laura Bagarotto, em 1514. Esta obra foi realizada em 1514, é uma
pintura a óleo sobre tela, e foi encomendado por Niccolo
Aurélio, então secretário
do Conselho dos Dez, e mais tarde Grande Chanceler da Sereníssima, estado no
nordeste da Itália, com capital em Veneza, que existiu entre o século IX e
XVIII. Ao longo do tempo esta pintura de Ticiano foi conhecida por: Beleza sem
ornamento e beleza ornamentada (1613), Três amores (1650), Mulher divina e profana (1700) e o actual título, Amor sagrado e amor profano (1792 e 1833), resulta de uma interpretação de meados do século XVIII
e que dá a esta obra uma leitura moralista de acordo com a filosofia
Neoplatónica[1]
que Ticiano e o seu círculo acreditavam. A consciência da perfeição divina da
ordem do universo, atribuindo-lhes uma grandeza clássica, está bem patente na pintura
onde não faltam as paisagens campestres que Ticiano exaltou reflectindo a
delicada poesia lírica de Giovanni Bellini ou Giorgione.
O Amor Sagrado e Profano de Ticiano é um ícone da Galleria Borghese. O
Humanismo renascentista, a Antiguidade Clássica, a redescoberta de textos
antigos são os principais factores para decifrar da obra de Ticiano tão bem explícita no pensamento de Marsilio
Ficino, segundo a qual a beleza terrena é um
reflexo da beleza celestial e a sua contemplação é um prelúdio da sua
consecução ultra-terrena numa alusão ao Symposium, diálogo
de Platão, onde Pausanias fala de uma dupla de Vénus, a “celestial” e a “vulgar”.
[1] Erwin Panofsky:
The Neoplatonic Movement in Florence and Northern Italy (Bandinelli and
Titian), Studies in Iconology, Naturalistic Themes in the Art of the
Renaissance, Oxford, 1939, reprinted 1962, p.152