Vasari ficou conhecido como o primeiro historiador da arte, através de seu livro Vite ou Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori,
onde registrou a biografia dos principais artistas do Renascimento. É com Vasari que o termo Gótico foi pela primeira vez mencionado com
sentido pejorativo à arte europeia dos séculos XI até ao Renascimento: uma arte
feita pelos “godos”, um povo bárbaro que saqueou Roma. Publicado pela primeira
vez em 1550, incluía, além das biografias, um valioso tratado das técnicas
empregadas. Teve uma revisão em 1568, acrescida de retratos dos biografados.
“Esforçam-se os espíritos ilustres em todas as
suas ações, por um vivo desejo de glória, e não se entregam a nenhuma fadiga,
por mais estrênua, a fim de conduzir suas obras àquela perfeição que as tornam
estupendas e maravilhosas diante de todo o mundo; nem o infortúnio de muitos
deles poderia impedir seus esforços em direção a grandes alturas, tanto a fim
de viverem com honra, como para deixarem aos tempos vindouros uma fama eterna
de toda sua rara excelência. E ainda que por tão louváveis estudos e desejos
fossem em vida mui premiados pela liberalidade dos príncipes e pela virtuosa
ambição da república, e mesmo
depois da morte permanecessem perpetuados à visão do mundo pelo testemunho das
estátuas, das sepulturas, das medalhas e outras memórias similares, vê-se
manifestamente que a voracidade do tempo não apenas destruiu boa parte das
obras propriamente ditas e de seus testemunhos honrosos, mas apagou e dispersou
os nomes de todos aqueles que não contam com outra coisa que a pena agilíssima
e piedosíssima dos escritores. Sabendo e considerando muitas vezes, não só pelo
exemplo dos antigos, mas também dos modernos, que os nomes de muitíssimos
arquitetos, escultores e pintores antigos e modernos, junto com suas infinitas
obras belíssimas em várias partes da Itália,
se vão esquecendo e consumindo aos poucos e de tal modo, de fato, que não se
pode esperar para eles senão um oblívio total muito logo, para defendê-los o
mais que puder desta segunda morte e mantê-los o mais longamente possível na
memória dos vivos, havendo passado muito tempo em buscar fontes, usado imensa
diligência no descobrir sua pátria, a origem e os feitos dos artífices, e com
grande fadiga resgatá-los dos relatos de muitos anciãos e de diversos registros
e escritos deixados aos herdeiros, entregues para se tornarem pó e alimento de
traças, e devolvendo-lhes utilidade e prazer, julguei conveniente, como me
pareceu, escrever estas memórias que meu débil engenho e pouco juízo
permitiram. Para a honra dos que já morreram, e benefício de todos os
estudiosos, principalmente dessas três artes excelentíssimas, a arquitetura, a escultura e a pintura,
escreverei as vidas de cada um, segundo o tempo em que viveram, desde Cimabue até os contemporâneos".
Vasari, Giorgio. Le Vite de' più Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori:
Proemio. De Bibliotheca