31 de outubro de 2013

Barroco

Andrea Pozzo, 

Apoteose de S. Inácio de Loyola, (Trompe l'oeil), 
Roma


BARROCO

A Europa estava a mudar e com o aparecimento de novos pólos económicos gerou, inevitavelmente, uma grande variedade de abordagens estilísticas, que foram englobadas sob a denominação genérica de "arte barroca". “Barroco” ou “Barrocos” é questão mais premente a todos os historiadores de arte. Porém, se a abordagem ao Barroco tiver em conta o período, consensualizado, entre o final do século XVI até finais do século XVIII, poderemos constatar que certas obras estão mais próximas do classicismo renascentista e outras mais afastadas dele consoante os centros artísticos de onde provêm. Assim, podemos caracterizar, em termos gerais, a arte Barroca como uma tentativa de conciliar a realidade terrena com o mundo transcendental em obras dramáticas e exuberantes: a principal característica. Influenciados pela tradição clássica da arte renascentista, os artistas barrocos mostravam maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo na abordagem de temas idênticos. Enquanto no Renascimento as qualidades de moderação, economia formal, austeridade, equilíbrio e harmonia eram as mais procuradas, no Barroco a tendência decorativa, contrastes mais fortes, dinamismo, dramaticidade, teatralidade da acção, o gosto pela opulência dos materiais e a demanda de uma vida espiritual denotam uma tensão entre a arte Barroca e a vida religiosa. O Barroco é, por excelência, o estilo artístico da Contra-Reforma. O BARROCO é a arte do exagero.
Gian Lorenzo BERNINI
Êxtase de St Teresa, 1625
Capela Cornaro, Igreja de Santa Maria della VittoriaRoma
Numa época onde a maior parte da população era iletrada, a arte católica transforma-se em um complemento altamente persuasivo para o catecismo verbal. Enquanto os protestantes repudiavam o luxo dos templos e o uso de imagens nos cultos, o clero católico procurava transformar a liturgia religiosa num verdadeiro espectáculo sensorial, capaz de cooptar mais seguidores. Todas as artes concorriam para a criação de uma “obra total”, unindo arquitectura, música, pintura, escultura e até mesmo o teatro num rico repertório simbólico e dramático, que se destinava a emocionar e incrementar a devoção.
Esta relação entre a imagem e a palavra foi objecto de maior acuidade e insistência nos séculos XVI e XVII onde a Poesia não podia deixar de estar presente dando forma à ut pictura poesis[1], que aconselhava os poetas a inspirarem-se nas pinturas, mostrando que a arte apenas atinge a sua plenitude guardando contacto com o visível. O poeta, que especula como o filósofo, pretende igualmente desenvolver a sua capacidade sensual de “pintar”, numa crescente preocupação de dar aos textos escritos um carácter pictórico, onde o discurso produz imagens a partir de representações plásticas.

«Os sábios são pintores; pintura é poesia; pintura é história; e enfim toda a composição de homens cultos (qualunque componimenti de’dotti) é pintura.» Ludovico Dolce[2]

No fim do século XVI e principalmente do século XVII, as soluções plásticas no nosso país não atingiram nem o fascínio sensorial, nem a carga metafísica dos grandes mestres maneiristas de Florença e de Roma ou mesmo de Fontainebleau e de Praga, devido aos valores culturais de um maneirismo sui generis de decantada ideologia tridentina. Os teólogos corrigiram determinados temas, anteriormente representados, transmitindo-lhes um programa mais de acordo com os dogmas contra-reformistas e com a pretendida tarefa pedagógica de inflamar as almas dos crentes com cenas de milagres, de exaltação mística e de martírios numa atitude semelhante à ut pictura poesis. A “pintura” desenvolvida pela Retórica da Igreja Contra-reformista instigava o contemplador a ouvir tal como o orador devia fazer a sua audiência ver.
As “constituições sinodais” dos bispados, bastante divulgadas após o Concílio de Trento, normalizavam por toda a parte a representação artística, «precavendo os artistas e quem lhes encomendava obras contra asimagens de formosura dissoluta” ou que “dêem ao povo ocasião de erro, ou escândalo”»[3].
Adoptando como dogma iconográfico o “corpo plangente”: estavam lançados os alicerces da “arte barroca”.
Mas nem sempre estas características são bem evidentes ou se apresentam todas ao mesmo tempo. O BARROCO foi um movimento artístico internacional apresentando características distintas consoante a sua proveniência e local onde se desenvolveu. Além disso, na sequência maneirista cada artista empregava tendências específicas – as prescrições eram muito mais temáticas e morais do que técnicas.





[1] Os Poemas constituíram a manifestação mais tangível da doutrina da ut pictura poesis em Portugal. Como se sabe, a Arte Poética de Horácio fundamentara no renascimento a teoria da equivalência entre a pintura e poesia.
[2] Nuno Saldanha, Poéticas da Imagem, Lisboa: Caminho, 1995. p. 39.
[3] Flávio Gonçalves, A legislação sinodal portuguesa da Contra-Reforma e a Arte Religiosa, in Comércio do Porto, Fevereiro, 1960.

30 de outubro de 2013

Arquitectura Barroca - características

Fachada da Catedral de S. Pedro, Roma
Arquitecto Carlo Maderno

Estilo dominante: BARROCO
Construção: 1506 - 1626

Arquitectos
Donato Bramante
Antonio Cordiani
Michelangelo
Vignola
Giacomo della Porta
Carlo Maderno
Antonio Cordiani
Giacomo Vignola

Principais Características da arquitectura Barroca 


  • Abandono dos esquemas formais da arquitectura clássica;
  • Observação do edifício como um todo integrado;
  • Dinamismo planimétrico e nas fachadas conseguido através de complexos traçados geométricos;
  • Procura do movimento e da ilusão espacial;
  • Integração de diferentes disciplinas artísticas nas igrejas e nos palácios;
  • Frontões centrais para reforçar o movimento ascensional das fachadas;
  • Decorações naturalistas; Procura de formas para veicular a emoção;
  • Gosto pela teatralidade e fantástico;
  • Contrastes de luz evocados pelas variações de volume na arquitectura;
  • Efeitos decorativos e visuais conseguidos com jogos de volume, linhas curvas, colunas retorcidas, etc.;
  • Exagero na ornamentação e ausência de espaços vazios.
  • O tecto elevado e elaborado com elementos de escultura dão uma dimensão do infinito; Grandiosidade e monumentalidade e o carácter cénico da arquitectura;
  • Movimento curvilíneo, procurando a ilusão de movimento, contrariando a simetria renascentista;
  • A arquitectura é veículo de emoção ao contrário da racionalidade renascentista;
  • Recurso às ordens clássicas (jónica, dórica, coríntia, compósita, toscana); Colunas, entablamentos, frontões.


29 de outubro de 2013

Pieter Bruegel o Velho, A Luta entre Carnaval e Quaresma, 1559

“A luta entre Carnaval e Quaresma, 1559” surge como uma sátira ao conflito expansionista religioso oriundo da Reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero em 1517, e a reacção da Contra-reforma emanada do Concílio de Trento (1547).
Esta pintura representa uma festa realizada nos Países Baixos. Entre uma Hospedaria (lado esquerdo) e uma Igreja (lado direito) a natureza humana é posta em confronto: a luxúria e a abstinência religiosa sublinhando a sua oposição. Junto à Igreja, simbolizando a pureza das acções, uma mulher (Quaresma) encabeça a procissão onde o séquito se desdobra em acções de caridade contrastando com os festejos estridentes junto à Pousada protagonizada por um homem gordo representando o Carnaval. A pintura representa um tema comum na Europa do século XVI, a batalha entre o Carnaval e a Quaresma, e com o seu humor e sagacidade, é uma crítica satírica sobre os conflitos da Reforma.


Pieter Bruegel (o Velho), A luta entre Carnaval e Quaresma, 1559

22 de outubro de 2013

Reforma e Contra-Reforma

Martinho Lutero (Pintura: L. Cranach, 1529
Não foram só as práticas religiosas, os motivos de divergências entre Protestantes reformistas e Católicos. Os conflitos políticos entre autoridade da Igreja Católica Romana e os governantes das monarquias europeias em ascensão acentuaram-se. A Europa dos Estados começa a ganhar força de uma nova realidade política. Governados por monarquias absolutistas, estes desejavam para si, além do poder político, o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para legitimar o direito divino dos reis.
A cobiça pelo quinhão despendido pelos crentes, com bulas e indulgências, fizeram com que as teses protestantes recolhessem o apoio de quase toda a sociedade incluindo a nobreza. Assim, a burguesia em crescimento, capitalista, sentia-se mais confortável aderindo às teses protestantes, que não olhavam para a usura como um comportamento ético condenável ao contrário da Igreja Católica Romana e os mais pobres viam nas teses protestantes uma nova liberdade espiritual. A Reforma Protestante exorta o regresso aos valores cristãos de cada "indivíduo". Segundo Bernard Cottret, "a reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade", ao invés da pregação romana que defende a salvação na igreja. Assim, Martinho Lutero, no dia 31 de Outubro de 1517, proferiu três sermões contra a "avareza e o paganismo" na Igreja romana, condenando as indulgências, a riqueza ostentatória da igreja católica romana, e foram pregadas as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg. Este facto é considerado como o início da Reforma Protestante.
Após a Reforma Protestante protagonizada por Martinho Lutero na Alemanha (Luteranismo), Calvino em Genebra (Calvinismo), Menno Simons em Zurique (Anabistas) e Henrique VIII em Inglaterra (Anglicanismo), o Papa Paulo III viu-se obrigado a convocar o Concílio de Trento como resposta à Reforma Protestante que se expandia no território europeu.
Contra a crescente disseminação das ideias protestantes, nomeadamente no centro e norte da europa, provocando a maior divisão no seio do cristianismo, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento, que resultou no início da Contra-reforma ou Reforma Católica, na qual os Jesuítas tiveram um papel importante. O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, é conhecido como Concílio da Contra-Reforma. Neste Concílio tridentino todo um corpo de doutrinas católicas havia sido discutido à luz das críticas protestantes. Após dezoito anos de trabalho, interrompido várias vezes, os teólogos elaboraram os decretos que depois foram discutidos pelos bispos em sessões privadas, tendo sido promulgadas solenemente em sessão pública em 1562.
O Concílio de Trento não só condenou, como definiu o pecado original recuperando entre outras medidas o Tribunal do Santo Ofício (inquisição) e a criação do Index Librorum Prohibitorum (Lista dos Livros proibidos) com uma relação de livros proibidos pela igreja. Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a supressão de abusos envolvendo indulgências e a adopção da Vulgata como tradução oficial da Bíblia.

A Arte, a partir de então, deverá estar sob controlo da Igreja Católica com directrizes bastante rígidas apelando à compaixão, ao sofrimento, à dor, à tristeza, à caridade, ao amor por Deus. A arte Barroca será dominada pelo esmagamento do observador perante a teatralidade e a imponência dos espaços. O corpo renascido do belo Clássico dará lugar ao corpo elegíaco do Barroco

As 95 Teses de Lutero, Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum, 1522. in wikipedia



Index Librorum Prohibitorum - 1596




21 de outubro de 2013

François Clouet, Carta de amor. 1570

François Clouet, Carta de amor. 1570


François Clouet foi considerado o maior pintor e desenhista francês da segunda metade do século XVI e um dos maiores nomes da Escola de Fontainebleau. François Clouet, pintor da corte de Francisco I, afirmou-se como retratista e também de obras de carácter histórico e mitológico.
“A carta de amor” é um dos quadros mais intrigantes e mais belo de François Clouet. A relação que se estabelece entre as personagens e a própria carta (objecto da atenção do observador) atribui-nos o papel principal na pintura: a de participante. “A carta de amor” terá sido escrita por nós?

20 de outubro de 2013

Andrea del Sarto - um artista "senza errori"



Andrea del Sarto, Última Ceia, 1520-25 
fresco, Basílica de San Salvi (Museu)
Florença

Estudo para a pintura (fresco) A última Ceia

19 de outubro de 2013

Homem Vitruviano

Leonardo da Vinci, Homem Vitruviano, 1485-90

Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci
As ideias de proporção e simetria aplicadas à concepção da beleza humana.
Desde a antiguidade grega que um sistema de medidas baseadas no corpo humano fora desenvolvido dando lugar ao Cânone Clássico: a proporção áurea. A “escala humana” (polegadas, palmos, pés, passos: medidas ainda encontradas no sistema métrico anglo-saxónico (inch, palmo=4 inch, feet, yards) obtém-se a partir um número Φ (Phi) que representa uma proporção facilmente encontrada na natureza.

ver: rectângulo de ouro

18 de outubro de 2013

Nuno Gonçalves, Painéis de São Vicente de Fora

Nuno Gonçalves (1470-1480)
Painéis de São Vicente de Fora



Obra-prima da pintura portuguesa do século XV, os  Painéis de São Vicente de Fora, com um estilo seco mas poderosamente realista, retratam-se figuras proeminentes da corte portuguesa.

16 de outubro de 2013

Giambologna, O rapto da Sabina, 1582.

Giambologna, O rapto da Sabina, 1582. Florença
Giambologna, nascido como Jean Boulogne (também conhecido como Giovanni da Bologna e Giovanni Bologna), foi um escultor maneirista. Nasceu em DouaiFlandres (hoje na França), em 1529, e faleceu em Florença em 13 de agosto de 1608. in wikipedia

15 de outubro de 2013

Leon Battista Alberti


"Uma obra está completa quando nada pode ser acrescentado, retirado ou alterado, a não ser para pior".



Basílica Santa Maria Novella, Florença
Fachada desenhada por Leon Battista Alberti, 1460-78
Leon Battista Alberti (1404 — 1472) foi um arquitecto, teórico de arte e humanista italiano. Ao estilo do ideal renascentista, foi filósofo da arquitectura e do urbanismo, pintor, músico e escultor. Sua vida é descrita em Vite, de Giorgio Vasari. Personificou o ideal renascentista do «uomo universale», ou seja, o letrado humanista capaz em numerosos campos de actividade. in wikipedia

Capa de De re aedificatoria, desenhada por Giorgio Vasari.


Os Dez Livros do De re aedificatoria de Alberti além de reflectir conscientemente a obra de Vitrúvio apresenta também uma atitude crítica referente ao seu predecessor. Alberti no seu tratado de arquitectura inclui uma ampla variedade de fontes literárias, incluindo Platão e Aristóteles, apresentando o lado sociológico da arquitectura. Distintamente do livro de Vitrúvio, o de Alberti diz aos arquitectos como as construções devem ser construídas, não como elas foram construídas. 

De re aedificatoria é dividida em dez livros e inclui:
·        Livro Um: Lineamentos
·        Livro Dois: Materiais
·        Livro Três: Construção
·        Livro Quatro: Obras Públicas
·        Livro Cinco: Obras Particulares
·        Livro Seis: Ornamento
·        Livro Sete: Ornamento em Edifícios Sagrados
·        Livro Oito: Ornamento em Edifícios Públicos Seculares
·        Livro Nove: Ornamento em Edifícios Particulares
·        Livro Dez: Restauração de Edifícios

De Re Aedificatoria permaneceu como o tratado clássico sobre arquitectura do século XVI ao XVIII.

14 de outubro de 2013

Ticiano, Amor sagrado e Amor profano, 1514

Ticiano,
Amor sagrado e Amor profano, 1514
Galeria Borghese, em Roma.



"Amor sagrado e Amor profano" de Ticiano (1490-1576) foi pintada para celebrar o casamento do veneziano Nicoló Aurélio (brasão no sarcófago) com a jovem viúva Laura Bagarotto, em 1514. Esta obra foi realizada em 1514, é uma pintura a óleo sobre tela, e foi encomendado por Niccolo Aurélio, então secretário do Conselho dos Dez, e mais tarde Grande Chanceler da Sereníssima, estado no nordeste da Itália, com capital em Veneza, que existiu entre o século IX e XVIII. Ao longo do tempo esta pintura de Ticiano foi conhecida por: Beleza sem ornamento e beleza ornamentada  (1613), Três amores  (1650), Mulher divina e profana  (1700)  e o actual título, Amor sagrado e amor profano  (1792 e 1833), resulta de uma interpretação de meados do século XVIII e que dá a esta obra uma leitura moralista de acordo com a filosofia Neoplatónica[1] que Ticiano e o seu círculo acreditavam. A consciência da perfeição divina da ordem do universo, atribuindo-lhes uma grandeza clássica, está bem patente na pintura onde não faltam as paisagens campestres que Ticiano exaltou reflectindo a delicada poesia lírica de Giovanni Bellini ou Giorgione. O Amor Sagrado e Profano de Ticiano é um ícone da Galleria Borghese. O Humanismo renascentista, a Antiguidade Clássica, a redescoberta de textos antigos são os principais factores para decifrar da obra de Ticiano  tão bem explícita no pensamento de Marsilio Ficino, segundo a qual a beleza terrena é um reflexo da beleza celestial e a sua contemplação é um prelúdio da sua consecução ultra-terrena numa alusão ao Symposium, diálogo de Platão, onde Pausanias fala de uma dupla de Vénus, a “celestial” e a “vulgar”.




[1] Erwin Panofsky: The Neoplatonic Movement in Florence and Northern Italy (Bandinelli and Titian), Studies in Iconology, Naturalistic Themes in the Art of the Renaissance, Oxford, 1939, reprinted 1962, p.152

12 de outubro de 2013

Andrea del Brescianino

Andrea del Brescianino (século XVI)
Madonna amamenta o menino
Museo d'Arte Sacra
Siena

À direita
S. Jerónimo. 
A preparação literária e a ampla erudição permitiram que Jerónimo fizesse a revisão e a tradução de muitos textos bíblicos. Assim, constitui a chamada "Vulgata", o texto oficial da Igreja latina, que foi reconhecido como tal pelo Concílio de Trento e que, depois da recente revisão, permanece o texto oficial da Igreja de língua latina.
São Jerónimo é conhecido não apenas pela tradução da Bíblia mas também por sua obra em defesa do Dogma da Virgindade Perpétua da Virgem Maria. 

À esquerda
Ecce Agnus Dei, ecce Qui tollit peccatum mundi (Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo): Expressão usada por S. João Batista.

11 de outubro de 2013

Giorgio Vasari (1511-1574)



Vasari ficou conhecido como o primeiro historiador da arte, através de seu livro Vite ou Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori, onde registrou a biografia dos principais artistas do Renascimento. É com Vasari que o termo Gótico foi pela primeira vez mencionado com sentido pejorativo à arte europeia dos séculos XI até ao Renascimento: uma arte feita pelos “godos”, um povo bárbaro que saqueou Roma. Publicado pela primeira vez em 1550, incluía, além das biografias, um valioso tratado das técnicas empregadas. Teve uma revisão em 1568, acrescida de retratos dos biografados.

“Esforçam-se os espíritos ilustres em todas as suas ações, por um vivo desejo de glória, e não se entregam a nenhuma fadiga, por mais estrênua, a fim de conduzir suas obras àquela perfeição que as tornam estupendas e maravilhosas diante de todo o mundo; nem o infortúnio de muitos deles poderia impedir seus esforços em direção a grandes alturas, tanto a fim de viverem com honra, como para deixarem aos tempos vindouros uma fama eterna de toda sua rara excelência. E ainda que por tão louváveis estudos e desejos fossem em vida mui premiados pela liberalidade dos príncipes e pela virtuosa ambição da república, e mesmo depois da morte permanecessem perpetuados à visão do mundo pelo testemunho das estátuas, das sepulturas, das medalhas e outras memórias similares, vê-se manifestamente que a voracidade do tempo não apenas destruiu boa parte das obras propriamente ditas e de seus testemunhos honrosos, mas apagou e dispersou os nomes de todos aqueles que não contam com outra coisa que a pena agilíssima e piedosíssima dos escritores. Sabendo e considerando muitas vezes, não só pelo exemplo dos antigos, mas também dos modernos, que os nomes de muitíssimos arquitetos, escultores e pintores antigos e modernos, junto com suas infinitas obras belíssimas em várias partes da Itália, se vão esquecendo e consumindo aos poucos e de tal modo, de fato, que não se pode esperar para eles senão um oblívio total muito logo, para defendê-los o mais que puder desta segunda morte e mantê-los o mais longamente possível na memória dos vivos, havendo passado muito tempo em buscar fontes, usado imensa diligência no descobrir sua pátria, a origem e os feitos dos artífices, e com grande fadiga resgatá-los dos relatos de muitos anciãos e de diversos registros e escritos deixados aos herdeiros, entregues para se tornarem pó e alimento de traças, e devolvendo-lhes utilidade e prazer, julguei conveniente, como me pareceu, escrever estas memórias que meu débil engenho e pouco juízo permitiram. Para a honra dos que já morreram, e benefício de todos os estudiosos, principalmente dessas três artes excelentíssimas, a arquitetura, a escultura e a pintura, escreverei as vidas de cada um, segundo o tempo em que viveram, desde Cimabue até os contemporâneos".

Vasari, Giorgio. Le Vite de' più Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori: Proemio. De Bibliotheca


9 de outubro de 2013

Domenico Beccafumi

Domenico Beccafumi
Virgem com o menino e S João Batista, 1540.


Domenico di Pace Beccafumi (1486 — 18 de Maio de 1551) foi um pintor italiano do Renascimento e Maneirismo, ativo predominantemente em Siena e considerado um dos maiores representantes da Escola Sienesa. Fonte: Wikipedia

8 de outubro de 2013

Virgem de Melun

Jean Fouquet, Virgem de Melun, 1450

Madonna de Jean Fouquet
A história misteriosa da Virgem de Melun faz parte de um díptico realizado pelo pintor francês Jean Fouquet, em 1450. Atualmente no Real Museu de Belas Artes de Antuérpia (Bélgica) a virgem de Melun não é mais do que a glorificação da “Belle” Agnès Sorel, amante do rei Charles VII, de França, que morreu aos 28 anos após o nascimento do seu último filho – único rapaz – que acabou por morrer com seis meses de idade. Este quadro faz parte de um díptico – conhecido – cuja leitura iconológica deverá merecer melhor atenção.
A Virgem de Melun não é, seguramente, uma pintura religiosa. É uma declaração de amor à maternidade, à mãe que deu à luz quatro filhos “Bastardos de França” que o rei Carlos VII legitimou.
Étienne Chevalier, cavaleiro da corte do rei Carlos VII, encarregou Jean Fouquet a conceber um Díptico para ser disposto na capela funerária de Agnès Sorel na catedral de Melun.
Muitas perguntas ficaram sem resposta. O mistério da “Virgem de Melun” permanece.
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Personagens:
Charles VII, Rei de França
Agnès Sorel, amante do rei de França
Étienne Chevalier, cavaleiro da corte do rei Carlos VII
Santo Estêvão, primeiro mártir do cristianismo (morto por lapidação)
Menino, (símbolo)
Querubins e Serafins
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Voltarei a olhar para este quadro...

arquitectura renascentista



Típica igreja de planta central, tipologia disseminada no Renascimento.



7 de outubro de 2013

Paolo VERONESE, Bodas de Caná, 1562-63

Paolo VERONESE, Bodas de Caná, 1562-63

Óleo sobre tela, 990 x 660 cm

Museu do Louvre, Paris


Paolo Cagliari, O Veronese, é considerado um grande mestre da pintura renascentista oriundo da escola veneziana. Veronese, como era conhecido em virtude de ter nascido em Verona, realizou vários trabalhos pictóricos entre os quais “Bodas de Caná”(1) que é considerado um ícone da pintura renascentista. Veronese foi discípulo de Antonio Badile que lhe transmitiu o gosto pela integração de figuras humanas em ambientes arquitectónicos clássicos, características que se destacam claramente nos seus trabalhos.
A pintura caracteriza-se pela solidez, pela regularidade dos volumes, pelas cores fortes e contrastadas e, ainda, pelas figuras convencionais esboçadas com um realismo anatómico. Assim, nesta pintura considerada como um ícone da arte do Renascimento veneziano podemos perceber facilmente o fascínio do artista pelo uso da arquitectura clássica, a perspectiva linear profunda, as cores fortes e contrastadas e a atenta observação dos detalhes: uma obra que evoca o esplendor, a magnificência e o brilho da vida veneziana.

Paolo Veronese, Ceia em casa de Levi, 1573
Óleo s/tela, 555 × 1280 cm
Basilica di Santi Giovanni e Paolo
Veneza



Veronese fez várias pinturas de ceias bíblicas nas quais retratava os modos e a vida opulenta cujas personagens eram retratos de pessoas da corte veneziana. Uma das suas obras intitulada "Ceia em Casa de Levi" foi classificada como profana levando Veronese a ter que se explicar junto à Inquisição, tendo sido obrigado a corrigir certos detalhes da mesma. 


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1 TEXTO Jo 2,1-11 Bodas de Caná (Bíblia sagrada Edição pastoral – Paulus)

“No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos. Faltou vinho e a mãe de Jesus disse-lhe: "Eles não têm vinho!" Jesus respondeu: "Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou." A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: "Façam o que ele mandar." Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus.
Jesus disse aos que serviam: "Encham de água esses potes." Eles encheram os potes até a boca. Depois Jesus disse: "Agora tirem e levem ao mestre-sala." Então levaram ao mestre-sala. Este, provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha.
Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestresala chamou o noivo e disse: "Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. “Você, porém, guardou o vinho bom até agora.”
Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória e seus discípulos acreditaram nele”.